Porque o meu Poeta escreve as Sereias.
E eu, sou um filme francês.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
UM HOMEM DISCRETO
"Deus lhe deu inúmeros pequenos dons que ele não usou nem desenvolveu por receio de ser um homem terminado e sem pudor."
Clarice Lispector
Para Não EsquecerRocco, Rio de Janeiro
Clarice Lispector
Para Não EsquecerRocco, Rio de Janeiro
domingo, 23 de novembro de 2008
Borges e eu
"Ao outro, a Borges, é que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, na contemplação do arco de um saguão e da cancela; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num trio de professores ou num dicionário biográfico. Agradam-me os relógios de areia, os mapas, a tipografia do século XVIII, as etimologias, o sabor do café e a prosa de Stevenson; o outro comunga dessas preferências, mas de um modo vaidoso que as converte em atributos de um actor. Seria exagerado afirmar que a nossa relação é hostil; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa urdir a sua literatura, e essa literatura justifica-me. Não me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o bom já não seja de alguém, nem sequer do outro, mas da linguagem ou da tradição. Quanto ao mais, estou destinado a perder-me definitivamente, e só algum instante de mim poderá sobreviver no outro. Pouco a pouco vou-lhe cedendo tudo, ainda que me conste o seu perverso hábito de falsificar e magnificar. Espinosa entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra eternamente quer ser pedra, e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros do que em muitos outros ou no laborioso toque de uma viola. Há anos tratei de me livrar dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos agora são de Borges e terei de imaginar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e tudo perco, tudo é do esquecimento ou do outro.Não sei qual dos dois escreve esta página."
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Às Putas
Um corpo que se vê como um templo, e que não deixa de ser despojado.
A pele suave de um corpo envergonhado que esconde a beleza que dá.
O templo é o meu, e a vergonha é a minha.
Quem espera para dar, quem acolhe o corpo.
Para ti, fui Puta.
Na ilusão de receber, na ilusão de Ser.
Não o fui, não fui mais que Puta.
Ao dar os meus segredos, ao dar-me a mim.
Em troca, o arremesso de que sempre fui eu a dar o corpo.
Fui eu que imaginei que não era Puta.
A pele suave de um corpo envergonhado que esconde a beleza que dá.
O templo é o meu, e a vergonha é a minha.
Quem espera para dar, quem acolhe o corpo.
Para ti, fui Puta.
Na ilusão de receber, na ilusão de Ser.
Não o fui, não fui mais que Puta.
Ao dar os meus segredos, ao dar-me a mim.
Em troca, o arremesso de que sempre fui eu a dar o corpo.
Fui eu que imaginei que não era Puta.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Se va
Anna Karina se va.
Deja a lo que conoce y se va.
Se va a descubrir un mundo mucho mayor que ella.
Se vuelve.
Se vuelve al genisis de todo. Al suyo.
Se vuelve donde no és su casa, pero donde pertenece.
Anna Karina se vuelve.
Deja a lo que conoce y se va.
Se va a descubrir un mundo mucho mayor que ella.
Se vuelve.
Se vuelve al genisis de todo. Al suyo.
Se vuelve donde no és su casa, pero donde pertenece.
Anna Karina se vuelve.
Lágrima
Não deixes que sequem numa camisola que não a tua.
Não deixes que sejam por uma dor que não é tua.
Não deixes que caiam.
Não deixes que a dor ou a tristeza tenham aparição física, não está aí o sentido.
O ser humano é composto por água. Não a desperdices, conserva-a.
Guarda-as. Nunca se sabe quando poderás vir mesmo a precisar delas.
Porque o amor em estado líquido, seca.
Não deixes que sejam por uma dor que não é tua.
Não deixes que caiam.
Não deixes que a dor ou a tristeza tenham aparição física, não está aí o sentido.
O ser humano é composto por água. Não a desperdices, conserva-a.
Guarda-as. Nunca se sabe quando poderás vir mesmo a precisar delas.
Porque o amor em estado líquido, seca.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Findo ele
Esta noite, sou eu que me abandono.
Sou eu que deixo as mãos livres para que as agarres.
Sou eu. Só existo eu.
As carícias são no meu cabelo. Os beijos ficam no meu corpo.
Sou eu a menina.
Quase nego a tua existência que só sinto através de mim.
Hoje não és tu. Não há tu. Talvez haja nós... Ou para já, apenas eu.
Sou eu que deixo as mãos livres para que as agarres.
Sou eu. Só existo eu.
As carícias são no meu cabelo. Os beijos ficam no meu corpo.
Sou eu a menina.
Quase nego a tua existência que só sinto através de mim.
Hoje não és tu. Não há tu. Talvez haja nós... Ou para já, apenas eu.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Mãos
É a mão que se estende e que seguras. É a mão segura que se estende.
Cravas as unhas sem sentir.
É a salvação que chega, a única possível.
Depois da recusa é preciso aceitar.
Vem Lídia, vem sentar-te ao meu lado.
Deixa os outros. Deixa os sonhos. Deixa o futuro que jamais existirá.
A salvação é esta.
O supremo egoísmo de quem gosta através de.
Nunca sem intermediários. Que muitas vezes é o seu próprio corpo. É sempre.
Nunca agarres a mão. Espera que ela se estenda.
Não craves tu as unhas, deixa que elas se cravem em ti.
Cravas as unhas sem sentir.
É a salvação que chega, a única possível.
Depois da recusa é preciso aceitar.
Vem Lídia, vem sentar-te ao meu lado.
Deixa os outros. Deixa os sonhos. Deixa o futuro que jamais existirá.
A salvação é esta.
O supremo egoísmo de quem gosta através de.
Nunca sem intermediários. Que muitas vezes é o seu próprio corpo. É sempre.
Nunca agarres a mão. Espera que ela se estenda.
Não craves tu as unhas, deixa que elas se cravem em ti.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
São rosas senhor, são rosas...
São anjos que caem e a quem eu tiro as asas. Eu sou o anjo.
Os anjos não querem ser mártires. Não sou o anjo.
Destruo os anjos. Na volúpia de ocupar um espaço que fica, inevitavelmente, vazio.
Quero ser o anjo, mas os anjos não existem que para serem ignorados. E deixam de existir.
Não aceito os anjos.
E não deixo, não deixo que caiam. Não deixo que me guardem. Recuso. Vão-se embora! Vão-se embora que a minha doença não aparenta ter cura! Vão-se embora! Está tudo errado, eu não sou o anjo. Sou o demónio.
Os anjos não querem ser mártires. Não sou o anjo.
Destruo os anjos. Na volúpia de ocupar um espaço que fica, inevitavelmente, vazio.
Quero ser o anjo, mas os anjos não existem que para serem ignorados. E deixam de existir.
Não aceito os anjos.
E não deixo, não deixo que caiam. Não deixo que me guardem. Recuso. Vão-se embora! Vão-se embora que a minha doença não aparenta ter cura! Vão-se embora! Está tudo errado, eu não sou o anjo. Sou o demónio.
Para ti, nua...
Nua. Sempre me viste nua. Sempre me deixei a mim em ti, no despojo dos amantes...
Na modorra dos dias em que o que importa não é o tecido. Nua.
Da fragilidade, a maior força. Da fragilidade à maior dor.
No corpo se guarda e do corpo é preciso tirar. Raspar. Queimar.
Quando se deixam os artifícios, o que se perde é tudo.
Nua.
A minha mãe sempre me avisou para ter cuidado com os resfriados.
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